O papel da família na psicoterapia infantil
- Psicóloga Tatiane Arruda
- 23 de jun. de 2020
- 3 min de leitura
O movimento de buscar o auxílio profissional de um psicólogo vem quando o adulto não consegue ou não aguenta mais os comportamentos da criança. Nestes casos, o pedido de socorro vem por uma necessidade do adulto - tornar o comportamento da criança mais fácil - e não pela dificuldade que a criança possa estar enfrentando. Mas é importante ter em mente que é na família que a criança se socializa, portanto, seu padrão de comportamento é influenciado pelas relações que se estabelecem entre os membros da família ou cuidadores. Assim, a participação da família torna-se imprescindível para o andamento das intervenções psicoterápicas nas crianças.
O contexto em que a criança está inserida exerce um papel fundamental na forma como ela se comporta. Os comportamentos da criança são respostas ao seu contexto: se o contexto é organizado e tranquilo, a criança se comportará de uma forma organizada e tranquila. Agora, se o contexto é conturbado e desorganizado, o comportamento apresentado será condizente com essa situação. Trabalhar com a criança isolada, sem envolver as pessoas importantes que convivem e exercem influência sobre ela, é como se estivéssemos olhando somente um dos lados da situação.
Existem situações em que, trabalhando os manejos dos responsáveis, percebe-se uma significativa mudança no comportamento da criança. Por exemplo, ao iniciarmos uma atividade no consultório e solicitarmos para a criança fazer outra parte em casa e trazer na semana seguinte para ser concluída, estamos trabalhando com vários aspectos, que incluem a responsabilidade da criança, a capacidade de continuar a tarefa, a capacidade de adiar a gratificação com a conclusão da tarefa, a permanência daquele assunto no cotidiano da criança. Mas, se por algum motivo, a tarefa não é realizada, a criança não é incentivada pelos responsáveis a fazer, a criança faz a tarefa mas ela é esquecida em casa, ou a criança não é trazida no próximo atendimento em função de compromissos inadiáveis dos seus responsáveis. O que está sendo ensinado para a criança?
Ao iniciar e concluir uma atividade ao longo de duas ou três semanas de atendimento, estamos mostrando o quanto a criança consegue ser responsável, consegue lembrar-se do que foi proposto, consegue se organizar nas etapas da tarefa. Agora, a descontinuidade do processo, seja pelo não cumprimento do combinado, por esquecimentos ou não comparecimento, está mostrando para a criança que a psicoterapia está em segundo plano, sugerindo pouca importância. E, indiretamente, sugere que a mudança de comportamento dela também não é tão necessária assim.
A aprendizagem de comportamentos pela criança acontece nas sutilezas de ações dos responsáveis. Existe uma pergunta importante no atendimento de crianças que o profissional da Psicologia deve se fazer para planejar suas intervenções: a serviço de que ou quem o comportamento inadequado da criança está?
Ao levantar algumas hipóteses de respostas, será possível entender também alguns movimentos a favor ou contra a psicoterapia. Esses movimentos podem ser reflexos das dificuldades dos próprios adultos e dos sentimentos que são mobilizados quando a criança é olhada. Trabalhar com os sintomas apresentados pela criança é convidar os pais ou responsáveis a olharem seus próprios sintomas, suas próprias dificuldades. Decidir levar um filho/a para atendimento psicológico é assumir que algo na relação pais/responsáveis/cuidadores-filhos não está bem ou falhou.
A família, pais, responsáveis, cuidadores possuem um papel fundamental no processo de psicoterapia da criança. Essas figuras essenciais fazem muita diferença quando pensamos nos resultados alcançados, quando participam ativamente do processo de crescimento, desenvolvimento e amadurecimento da criança. Quando os responsáveis conseguem dar-se conta da riqueza de seguir lado a lado da criança durante a psicoterapia, o crescimento acontece para todos.
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